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O que esperar na comercialização da nova safra gaúcha de arroz

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O RS espera colher em torno de 8,3 milhões de toneladas de arroz - Foto: Arquivo/Irga

Por Tiago Sarmento Barata

Em poucas semanas, vamos iniciar a colheita de uma lavoura marcada por dificuldades. Além da condição de descapitalização do setor produtivo, que inevitavelmente reflete na redução do aporte tecnológico na cultura, o clima impediu que aproximadamente 250 mil hectares tivessem sido semeados dentro do período considerado ideal para a obtenção dos melhores rendimentos.

Diante disso, a expectativa é de que sejam colhidas aproximadamente 8,3 milhões de toneladas de arroz no Rio Grande do Sul, o que representa 450 mil toneladas a menos do que havia sido colhido na última safra. De acordo com a Conab, a produção brasileira de arroz deve ter uma redução de 617 mil toneladas em relação ao ano passado.

Teremos, porém, apesar da menor produção, uma maior disponibilidade de arroz no mercado neste próximo ano comercial. Isso porque a posição inicial do estoque é, em um milhão de toneladas, maior do que há doze meses. Teoricamente, este incremento da disponibilidade de produto deve exercer pressão baixista sobre os preços no próximo ano comercial, principalmente nos primeiros meses, quando a oferta por parte dos produtores é maior para a liquidação das dívidas feitas para a condução da lavoura.

Entretanto, devemos considerar que o mercado já inicia o ano comercial operando com preços em patamar bastante reduzido, estabelecendo um cenário já menos vantajoso ao arroz produzido pelos nossos parceiros do Mercosul e reativando a exportação como uma  importante via de escoamento. Opera-se hoje com uma referência de preço (indicador Cepea) de 12% abaixo do valor médio registrado na entrada da última safra. Em dólares, a desvalorização é ainda maior, chegando a 15%. Em função disso, paraguaios devem seguir os passos de uruguaios e argentinos na busca de terceiros mercados. Ao mesmo tempo, o arroz brasileiro volta a ser uma alternativa viável no abastecimento de terceiros mercado.

Mais do que nunca, atribuo à exportação a missão de garantir a sustentação das cotações ao longo deste próximo ano comercial. Devemos aproveitar a melhor condição competitiva para escoar para o mercado externo o maior volume possível, buscando assim equilibrar a sistemática perda de participação do arroz gaúcho no abastecimento do mercado doméstico. Para tanto, é fundamental buscarmos soluções para as limitadas condições logísticas e avançarmos nas negociações de abertura comercial. Em especial, com México, Nigéria e China.

Componente fundamental na condição competitiva do arroz brasileiro no mercado internacional, o fator cambial terá ainda maior influência do cenário político no próximo ano, em razão da eleição presidencial, acrescentando fortes emoções à conjuntura.

Em meio das incertezas em relação à formação dos preços, temos de concreto a noção de que a cadeia produtiva do arroz no Rio Grande do Sul precisa passar por um processo de reformulação nos seus aspectos estruturais. O elevado custo de produção expõe a cadeia orizícola gaúcha à eminência de um colapso. Motivo frequente de análise e discussão, a preocupante situação da cadeia produtiva de arroz do Rio Grande do Sul é de absoluto conhecimento de todos. O diagnóstico é bastante claro. O arroz gaúcho não tem condição competitiva no abastecimento do mercado brasileiro e internacional com um preço que cubra o custo de produção. Tendo isso claro, precisamos imediatamente partir para a adoção de medidas práticas que tragam aos setores produtivo e industrial gaúcho melhores condições competitivas.

Em caráter prioritário, precisamos reduzir custos de produção, industrialização e comercialização. Tendo qualidade e eficiência como características reconhecidas da produção e industrialização do arroz no Rio Grande do Sul, pouco ainda pode ser feito pelo produtor ou beneficiador para reduzir o custo unitário de produção. Inegavelmente, está na mão dos governos Federal e Estadual a sobrevivência deste importante setor da economia. Reduzir as “mordidas”, que se disseminam ao longo de todo processo produtivo e comercial é vital. Favorecer a liberdade comercial de insumos intrabloco, incentivar o investimento privado em infraestrutura logística e uniformizar as alíquotas de ICMS na comercialização de produtos da cesta básica em todo o território nacional são também importantes.

Considerando a situação financeira do Estado, é difícil acreditar no aliviamento da carga tributária no curto prazo. É preciso ter coragem para cortar arrecadações, mas, acima de tudo, é preciso ter confiança. Confiança no vigor e na capacidade de recuperação da cadeia produtiva do arroz do Rio Grande do Sul.

Tiago Sarmento Barata é Diretor Comercial e Industrial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga)

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